Recomposições identitárias e culturas alimentares migratórias.

Maria Engrácia Leandro

Resumo


A ninfa colocou perto dele toda a espécie de manjares para

comer e beber, tudo aquilo de que se nutrem os homens mortais

Homero[1]

Só nos podemos abrir aos outros a partir do que somos e se, ao longo do caminho, mudamos de identidade cultural,

é através de um processo lento e progressivo a partir da

identidade original que, aliás, deixa sempre a sua marca

Salim Abou[2]

 

MOBILIDADES INTERNACIONAIS E RECOMPOSIÇÃO DAS IDENTIDADES

«Diz-me o que comes e dir-te-ei quem és». Fazendo a aproximação entre este aforismo e a identidade, podemos daqui retirar um corolário: ambos nos definem pelo que somos e pelo que nos diferencia, pois que tanto a forma de comer como a identidade individual e social podem ser definidas pelo que nos «distingue de» e nos «assemelha a». Em termos sociais, a identidade, como já o afirmava Platão, é a dinâmica do EU e do OUTRO; do NÓS e dos OUTROS. A identidade tem, por conseguinte, duas significações. Por um lado, é acção de singularizar, isto é, de reconhecer algo a certas indivíduos e grupos sociais para os poder acomodar numa categoria de classificação; por outro, consiste na acção de se identificar com alguém ou com alguma coisa, Nesta perspectiva, a identidade é a incorporação dinâmica de certas singularidades que partilhamos com alguns, mas também de algo diferente de si e dos seus. É nesta interação que a identidade advém processo, pelo que, em nosso entender, não há identidades únicas, nem estáticas, ou seja, definidas de uma vez por todas.


[1] HOMERO – Odisseia. Mem Martins: Europa América, 1990.

[2] ABOU, Salim – L’identité culturelle. Relations interethniques et problèmes d’acculturation. Paris: Ed. Anthropos, 1981.


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