Comer para sarar, sarar para comer: as dietas alimentares do hospital de Caminha no século XIX.

Alexandra Esteves

Resumo


Ao longo da história, a associação entre o surgimento de doenças e os alimentos consumidos pelo homem tem suscitado opiniões variadas e servido de pretexto para sustentar controvérsias. Se, para uns, parece claro que as carências alimentares estão na origem de enfermidades e até de surtos epidémicos, para outros essa ligação não é tão evidente. Contudo, afigura-se inegável que a ausência de determinados produtos na dieta humana pode ocasionar certas doenças. Daí que, em algumas circunstâncias, o restabelecimento do doente passava pela diversificação e pelo reforço do regime alimentar.

A nossa análise não se prende com a fome ou a indigência enquanto factores determinantes no aparecimento de doenças, mas incide antes sobre a importância da alimentação no processo de cura daqueles que foram acometidos por moléstias várias. Tomando como exemplo o hospital de Caminha no século XIX, verificamos que o tratamento dos doentes não assentava apenas na prescrição de substâncias medicamentosas e nos cuidados de higiene, mas incluía cuidados especiais com o regime alimentar. Centraremos, portanto, a nossa atenção nos alimentos fornecidos no ambiente hospitalar, sem descurarmos a importância que, entre outras preocupações, era atribuída à limpeza. Esta vertente assumia, aliás, particular relevância, em conformidade com o discurso higienista de setecentos, cuja pertinência foi reforçada por várias epidemias, como a varíola, a cólera, a febre-amarela ou a tuberculose, que deflagraram na Europa durante o século XIX. A conexão entre a alimentação e a medicina é antiga e marcada por esta ambivalência: se a alimentação pode ser responsável pela doença, também pode sarar[1].


[1] Leia-se BRAGA, Isabel M. R. Mendes Drumond – Cultura, Religião e Quotidiano. Portugal

(século XVIII). Lisboa: Hugin, 2005. p. 206.


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