Alimentar o corpo e o espírito no convento de Nossa Senhora dos Remédios de Braga no século XVII

Ricardo Silva

Resumo


Ato simbólico, aproveitado politicamente como mecanismo de demonstração de poder, o consumo de alimentos foi habilmente aproveitado pelos monarcas e pelos grandes senhores enquanto estratégias de afirmação da sua casa e como elemento de diferenciação social[1].

De necessidade fisiológica, a alimentação revestiu-se, em determinados contextos, de um aparato simbólico, cujo desenrolar foi auxiliado pelo protocolo que esses momentos exigiam e as ocasiões proporcionavam.

Não obstante o caráter eminentemente aristocrático de que estes atos se revestiam, a mesa serviu outros fins em contextos e espaços distintos dos paços e das casas nobres, sem que, no entanto, o seu caráter simbólico perdesse o seu lugar.

Contudo, esses momentos conheceram outros contornos e propósitos, distintos daqueles que mencionámos.

As casas conventuais, por exemplo, usavam essas ocasiões como uma extensão da sua vocação contemplativa, alturas em que a comunidade estava reunida e ouvia leituras espirituais ou da própria Regra que seguiam[2]. Nos conventos, portanto, a função dos alimentos era bastante distinta daquela que se assistia na corte, sendo, inclusive, um meio de santificação, mas também de perdição e, consequentemente, de pecado.


[1] Leia-se a este propósito FLANDRIN, Jean-Louis e MONTARI, Massimo (dir.) – História da alimentação. Vol. 1. Lisboa: Terramar, 1998. p. 11.

[2] Consulte-se MOTA, Salvador Magalhães – O regime alimentar dos monges bernardos no final do século XVIII. Revista de Ciências Históricas, n.º 5 (1990). p. 273. No mosteiro de Santa Clara do Porto, as religiosas ouviam a leitura da Regra todas as sextas-feiras. Veja-se FERNANDES, Maria Eugénia Matos – O mosteiro de Santa Clara do Porto em meados do século XVIII (1730-80). Porto: Arquivo Histórico / Câmara Municipal do Porto, 1992. p. 180.


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