A formação superior específica em Jornalismo é essencial ao exercício da profissão. Se o futuro jornalista não possuir uma licenciatura em Ciências da Comunicação ou Jornalismo, deverá adquirir formação ao nível do 2º ciclo ou 3º ciclo (pós-graduação, mestrado ou doutoramento) nessa área. Essa experiência é condição necessária para adquirir as competências necessárias, não só ao nível do domínio das linguagens técnicas, como sobretudo fluência teórica com a história, a ética e os efeitos do Jornalismo no espaço público, na construção da cidadania e no reforço da democracia.
A universidade que oferece a formação e o mercado que assegura as oportunidades de trabalho são dois espaços distintos e devem preservar a sua identidade. Neste momento, o risco de diluição identitária afecta mais a universidade do que o mercado, que se tornou uma força dominante e universal. A universidade deve lutar para preservar a sua autonomia e a sua definição primordial como espaço de conhecimento, investigação, reflexão e problematização útil e visível na comunidade sobre os problemas e os desafios do mundo, incluindo aqueles que se colocam especificamente ao Jornalismo. Este foco não significa um desligamento de uma exigência de competitividade, sustentabilidade e adaptabilidade, valores eminentemente económicos, que devem também ser incorporados na dinâmica evolutiva dos cursos de Jornalismo, incluindo na necessidade de integrar as novas tecnologias da informação nas práticas de ensino e na abertura às empresas e aos profissionais. Mas vejo esta conciliação sem sacrifício das prioridades, que devem continuar a estar centradas na oferta de um conjunto estruturado e coerente de disciplinas alicerçadas na herança e nas preocupações das ciências sociais e das ciências da comunicação. Este núcleo de pensamento é, pela sua própria natureza, interdisciplinar, e permite cruzamentos com as artes, as tecnologias e as humanidades.
Os estágios curriculares e profissionais são uma das áreas cruciais que estabelecem a ponte entre a universidade e as empresas jornalísticas e devem ser monitorizados enquanto período de experimentação e de aprendizagem. A universidade deveria estar mais próxima dos seus estagiários e criar gabinetes especializados no acompanhamento dos estágios e na inserção na vida profissional. A integração de profissionais na docência, em todos os ciclos de estudo, a oferta de cursos livres ministrados por profissionais, o desenvolvimento de unidades curriculares voltadas para a prática jornalística e o estabelecimento de parcerias ao nível da investigação e da produção de conteúdos jornalísticos semi-profissionais são formas de reduzir a distância entre o mundo académico e o mundo profissional que ainda carecem de mais interesse e aposta.
Carla Baptista | UNovaLisboa