Nelson Soares

ADVERBE – Assessoria de Comunicação; Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP); União Europeia de Hospitalização Privada (UEHP)

  1. Qual deverá ser o papel dos media na promoção da saúde pública?

Não creio que a promoção deva ser uma missão dos media informativos, mesmo quando estão em causa temáticas associadas à saúde pública. Caso contrário, não teria uma qualquer empresa, cuja actividade fosse estratégica para a economia nacional, a legitimidade para pedir idêntico tratamento? A visibilidade e o espaço conferido à Saúde (Pública) por um órgão de comunicação social deve ser proporcional ao valor-notícia que o seu leitor/público-alvo lhe confere. Nas duas últimas décadas, porém, reflectindo a pressão das mutações sociais, a profusão de actores no sector, bem como o avanço na técnica e na tecnologia da Saúde, os critérios de noticiabilidade têm vindo a alterar-se e valorizam, cada vez mais, as temáticas associadas à saúde. E cada vez menos na perspectiva bad news are always good news.  Mais do que noticiar casos de negligência médica ou de infortúnios provocados por doenças incuráveis, como era usual há alguns anos, as notícias, reportagens e entrevistas com ângulos e abordagens ditas “positivas” – como investigações, projectos ou tratamentos – produzem, hoje, em certa medida, uma overdose de informação, nem sempre clara e objectiva e que, por vezes, desinforma e até alarma. Os media têm consciência que falar de saúde é importante. Não estou certo que a maioria o saiba fazer da melhor maneira e na dose certa.

2.     Como caracteriza a relação entre os jornalistas e as assessorias no setor da saúde em Portugal?

Cordial e, cada vez mais, fundamental. Cordial porque a desconfiança mútua cedeu o lugar, nos últimos anos, à parceria. Fundamental porque os assessores se transformaram em mediadores de códigos que conflituam: o jornalístico, por um lado, e o médico e/ou politico-legal, por outro. O assessor é o primeiro filtro da veracidade, do rigor e da clareza da informação a ceder aos jornalistas.

3.     Que estratégias poderiam ser desenvolvidas para melhorar a qualidade dessa relação e, por conseguinte, a qualidade da informação mediática sobre saúde em Portugal?

Não acredito que a especialização de jornalistas na área da Saúde, como muitos defendem, possa ser a solução para todos os males. O jornalismo precisa de diversidade, de olhares diferentes, de conhecimentos que se interliguem e de evitar que os seus profissionais corram o risco de escrever ou dizer em circuito fechado. O facto de não ser especialista em saúde não impede um jornalista bem preparado de fazer um bom trabalho jornalístico sobre temas de saúde. A especialização favorece o conhecimento mas, por vezes, coarcta a capacidade do jornalista de se surpreender, de pensar lateral… O cerne da questão está no respeito mútuo. Tal como o assessor não pode querer que o jornalista escreva ou diga unicamente o que lhe transmitiu, também o jornalista não deve encarar o assessor como o primeiro obstáculo à sua intenção de obter da fonte assessorada o que esta não quer dizer.

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