A cultura alimentar em Cascais. Passado-Presente

Maria Paula Vilhena Mascarenhas

Resumo


INTRODUÇÃO

Numa definição genérica, pode dizer-se que o acto alimentar é simultaneamente vital, social e cultural. Comer e beber colectivamente tece, segundo Norbert Elias, relações de interdependência pessoais, entrelaça ligações, gera processos de partilha «envolventes ou distanciados»[1]. Também Georg Simmel, num curioso ensaio, destacou o papel específico da refeição na socialização e no funcionamento da sociedade. Por um lado, comer pode ser a coisa menos partilhada dado que um pedaço pode ser absorvido por apenas uma pessoa. Por outro, comer é uma necessidade e um acto comum a todos os seres, tornando-se por isso a ocasião de uma acção partilhada. Realizar uma refeição em comum tem um grande valor social na quase totalidade das sociedades uma vez que o acto de comer sendo um acontecimento quotidiano «primitivo», «trivial» e «inevitável»[2], isto é, um acto biológico de sobrevivência que vai mais além, transformando-se numa interacção que atinge um sentido «supra-pessoal».

O presente artigo apresenta alguns pressupostos teóricos sobre o estudo sociocultural da alimentação. Concentrados no conceito de cultura alimentar, eixo sobre o qual gira a nossa investigação, começamos por fazer uma análise da «refeição», explicitando a articulação das três dimensões da cultura alimentar.

Em termos de forma, o texto estrutura-se em dois momentos distintos. No primeiro, apesentamos alguns aspectos teóricos em torno do conceito de cultura alimentar. Num segundo momento, procedemos à análise diacrónica e sincrónica das refeições quotidianas nos grupos domésticos.


[1] ELIAS, Norbert – Engagement et distanciation. 1.ª ed. 1983. Paris: Librairie Arthème Fayard,1993

[2] IMMEL, Georg –The Sociology of Meal, Foods and Foodways. Vol. 5, 1994. pp. 333-351.


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