O Banco Agrícola, Comercial e Industrial de Ponte de Lima e a crise financeira de 1876

José Manuel Lopes Cordeiro

Resumo


Em Janeiro de 1876 começaram a registar-se sinais de instabilidade nalguns sectores da actividade económica decorrentes de algumas dúvidas sobre a capacidade administrativa e a solidez dos numerosos bancos e casas bancárias que se tinham constituído nos últimos anos, em grande parte fruto da afluência de capitais ocorrida a partir de 1872, provenientes principalmente do Brasil, mas também de Espanha. Os alertas reveladores de que algo ia mal traduziam-se na súbita descida das cotações dos títulos de algumas dessas instituições bancárias. Contudo, não eram ainda suficientes para contrariar o clima de generalizado optimismo até então reinante, pelo que os empréstimos continuaram a processar-se em boas condições, os títulos da dívida pública subiam nas cotações, e mantinha-se o ritmo de construção de caminhos de ferro e de estradas. O próprio ministro da Fazenda, António de Serpa Pimentel, nos seus discursos e relatórios, evidenciava a confiança de que esta situação favorável iria prosseguir sem grandes sobressaltos. No entanto, a crise já estava instalada. Um parecer de uma comissão parlamentar, assim como os relatórios de alguns bancos, revelavam claramente a situação de crise financeira e monetária que, para além das causas próximas, tinha sido engendrada pelo próprio modelo de desenvolvimento criado pelo fontismo.

Foram várias as causas que estiveram na base do surgimento desta crise. Salientando apenas as principais, surge logo em primeiro lugar o desmesurado número de novas empresas e entidades bancárias fundadas nos anos anteriores, que em grande parte se dedicava principalmente à especulação e a operações arriscadas na bolsa: «entre 1872 e 1875 fundam-se 41 bancos a que corresponde um capital nominal de cerca de 75 milhares de contos. O número de sociedades anónimas, exceptuando portanto o número de bancos e sociedades anónimas atrás referido, atingiu as 67 com um capital nominal de 23 mil contos (ainda que só parcialmente realizado)» . Um exemplo daquela actuação especulativa prendia-se, por exemplo, com a subscrição de títulos da dívida pública portuguesa e espanhola, que então alcançavam somas impressionantes. Atento a essas operações, o ministro das Finanças do país vizinho viu-se obrigado a tomar medidas de prevenção que fizeram abortar todas as previsões dos especuladores, pelo que quando foi necessário proceder às transacções devidas, a falta de liquidez levou à falência de várias casas bancárias.


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