O papel social das amortizações metálicas na estruturação da paisagem da Idade do Bronze do Noroeste Português: os montes da Penha (Guimarães) e da Saia (Barcelos)

Hugo Aluai Sampaio

Resumo


“…we must therefore avoid saying that our body is in space, or in time. It inhabits space and time”. Maurice Merleau‑Ponty (1962, p. 138‑139)

“Os depósitos não gozam de visibilidade, ainda que possam ser referenciados no espaço; e a sua invisibilidade não é impeditiva de terem sido manipulados num processo conceptual de transformação do espaço de construção de territórios, pois há muitas formas de apropriação do espaço”. Raquel Vilaça (2007, p. 25)

O presente texto foi escrito com plena consciência dos obstáculos existentes relativos ao estudo e à problemática interpretativa dos depósitos metálicos. Como afirma Raquel Vilaça (2007, p. 7) “Não há, nem pode haver, sintonia nas explicações que têm sido propostas, pois a diversidade do fenómeno impede‑o”. Se por um lado são parcas ou inexistentes as informações relativas à maioria desses contextos, por outro, as “descobertas” aconteceram, invariavelmente, pela mão de cidadãos comuns (trabalhadores, proprietários de terrenos, etc.). Como tal, não tem sido possível perceber muitas das condições primárias em que se encontravam este tipo de materialidades, pois delas restam apenas descrições orais tantas vezes ambíguas. É neste quadro que se inscrevem a maioria dos achados nos dois casos de estudo aqui analisados: os Montes da Penha e da Saia. Pese embora a pouca informação arqueográfica e arqueológica de que dispomos, acreditamos existirem variáveis metodológicas que podem contribuir para novas interpretações sobre alguns destes fenómenos e dos propósitos por detrás de tais acções. Estas passam por um estudo contextual das materialidades a diferentes escalas de análise e pela adopção de novas premissas teóricas.

Assim, não se pretende um estudo arqueográfico e meramente descritor de objectos metálicos – apesar dos méritos que lhes reconhecemos – mas antes uma análise da concentração anómala de certos achados em determinados contextos e o equacionar de hipóteses sobre os motivos culturais por detrás dessas concentrações e sobre o seu papel social na estruturação das paisagens da Idade do Bronze do vale do Ave.


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