Os materiais empregues nas construções urbanas medievais. Contributo preliminar para o estudo da região do Entre Douro e Minho

Arnaldo Sousa Melo, Maria do Carmo Ribeiro

Resumo


O estudo dos materiais empregues nas construções urbanas medievais é em Portugal, um tema pouco abordado pelos investigadores. Esta situação fica a dever‑ se em larga medida à escassez de fontes que permitem aceder diretamente a este tipo de dados, mas também, às próprias especificidades que o tema requer. As fontes documentais que podem ser utilizadas para estudar os materiais aplicados nas construções executadas no período medieval são, na generalidade, indiretas e dispersas, muito embora em alguns tipos de documentos, tais como nos Livros de Prazos, Tombos de Propriedades Eclesiásticas, Livros de Vereações, Cartas de Quitação e em documentação diversa, se encontrem referências que permitem aprofundar o conhecimento desta temática. Parece‑nos, igualmente, que as fontes escritas que existem ainda não foram adequadamente utilizadas para este propósito. Por sua vez, as fontes arqueológicas são aquelas que, de forma direta, permitem recuperar as evidências materiais e um estudo aprofundado das mesmas. Todavia, o nível de especialização que envolve o estudo dos materiais, com a inerente multidisciplinaridade que lhe subjaz, tem feito com que muitos destes estudos estejam por fazer. Na realidade, grande parte do conhecimento produzido pela arqueologia decorre de análises macroscópicas dos materiais recuperados feitas pelos próprios arqueólogos, sendo, na maioria das vezes, identificadas apenas as grandes categorias, como o pétreo, a madeira, os metais, argamassas, entre outros. Esta situação é identicamente válida na análise do edificado medieval que integra as cidades atuais. Na realidade, o estudo das cidades medievais com base nas evidências arqueológicas é ainda bastante recente. Refira‑se que a arqueologia medieval portuguesa é uma especialização relativamente jovem, desenvolvida sobretudo a partir dos anos 70 ou 80 do século passado (Fontes, 2002, p. 221‑244; Fernandes, 2005, p. 149‑173.). De igual modo, a sua área de atuação encontra‑se condicionada devido, em parte, à circunstância dos núcleos urbanos medievais se localizarem, na maioria dos casos, sob as cidades atuais que conheceram uma ocupação permanente desde a Idade Média, ofuscando, deste modo, as evidências medievais no subsolo, por debaixo das construções do presente (Martins e Ribeiro, 2009/20, p. 149‑177). Todavia, nas últimas décadas a arqueologia da arquitetura tem procurado uma aproximação mais pormenorizada aos tipos de materiais empregues, através do estudo do edificado que se encontra ao nível do solo. Neste sentido, têm sido realizadas análises geológicas, químicas e físicas aos diversos tipos de materiais das construções medievais que integram as cidades atuais, procurando determinar os atributos e caraterísticas das amostras, o local de proveniência, a cronologia, entre outros aspetos (Azkarate Garai‑ Olaun, Caballero Zoreda, Quirós Castillo, 2001, p. 7‑ 10; Ramalho, 2004, p. 145‑153). No entanto, a aplicação dos princípios da arqueologia da arquitetura ao estudo do edificado tem as suas próprias limitações, desde logo porque não é previsível o desmonte/destruição das construções para o seu estudo.


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