Informação Geral

A adaptação dos media tradicionais à Internet é um dos temas mais estimulantes dos estudos dos mass media na era digital. Encarar a competição de novas formas de produção discursiva, estimuladas inclusive pela maior intervenção das audiências, é provavelmente o maior desafio que hoje se coloca aos media convencionais. Num momento em que se consolidam os chamados Media 2.0, impõe-se inevitavelmente uma reconfiguração dos conteúdos e do próprio formato das mensagens produzidas por meios que, tendo tido origem em suportes de carácter unidirecional, hoje se moldam à natureza interativa das ferramentas Web.

Com quase um século de história, também a rádio convive atualmente com este imperativo de repensar o seu lugar no espectro mediático e a sua relação com as audiências. Com o advento da Rádio 2.0, é impossível ignorar a transfiguração dos próprios conteúdos sonoros, tradicionalmente emitidos pelas estações hertzianas de rádio, porque será também impossível ignorar que o papel do próprio ouvinte convencional se está a alterar profundamente.

Atendendo às potencialidades tecnológicas, as audiências reclamam participação, envolvimento e interação. Na verdade, repensar os media em geral e a rádio em particular no contexto atual impõe reconhecer que as tecnologias permitiram quer a diversificação quer a dispersão das práticas das audiências. Tendo-lhes oferecido a oportunidade de manipular, criar e partilhar informação, as ferramentas eletrónicas ao dispor dos utilizadores em geral e dos ouvintes em particular tornaram as audiências potencialmente mais ativas e mais participativas.

Rádio

«Meio quente» na expressão de McLuhan, a rádio tradicional, assim como as novas formas de rádio emergentes na Web, já não pode corresponder apenas a uma técnica sofisticada de transmissão de informação em direto. Submetida a um «intenso processo de transformação dos seus elementos essenciais» [MaC05], a rádio enfrenta hoje a necessária tarefa de se deslocar de algum modo para a Web, onde passaram a estar também os seus potenciais ouvintes e de produzir conteúdos áudio adequados especificamente a este meio.

A digitalização em curso desde o final do século XX e a ampla difusão da Internet exigem mudanças profundas ao nível dos suportes, dos dispositivos, mas também ao nível dos conteúdos. É que, reconfigurando as noções de tempo e espaço e abrindo à interação, a Internet e a possibilidade deaudio-on-demand estão também a impor a reconfiguração das próprias produções sonoras como performances discursivas particularmente ligadas à arte de narrar.

Com efeito, projetar a rádio para a Internet e a partir dela moldar novos formatos narrativos para ambientes de maior interação não significa considerar apenas uma mudança de plataforma, mas também novos usos e novas práticas.

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São dois os objetivos principais deste projeto:

por um lado, perceber como estão as rádios tradicionais a responder aos desafios da Web, observando a oferta sonora disponibilizada pelas principais estações nacionais nos respetivos sites;
por outro, conhecer os usos efetivos que as audiências estão a fazer dos produtos sonoros disponíveis online, como forma de questionar a vitalidade do meio rádio em contexto multimédia.
Numa abordagem que tem em linha de conta a matriz sociológica do grupo de investigadores, o plano de trabalhos desenvolver-se-á numa dupla dimensão:

Por um lado, uma reflexão sobre a natureza mutante da rádio, sobre a sua ligação às práticas de interação mediática e sobre as características discursivas expectáveis em novos géneros e formatos narrativos adequados a novas formas de ouvir. Será este trabalho de reflexão devedor dos contributos da Sociologia dos Media, dos Estudos de Receção e da Semiótica.
Por outro lado, uma dimensão de carácter experimental, pois que a equipa se propõe desenhar e testar propostas de conteúdos áudio ajustados à forte presença da Internet nas atividades quotidianas, numa lógica de complementaridade entre a emissão hertziana tradicional e a emissão online. De pendor laboratorial, esta dimensão coincide com a motivação e a herança profissional dos investigadores, articulando-se também especialmente com os projetos de ensino (nomeadamente em Produção de Conteúdos Radiofónicos) a que estão vinculados.