Opiniões#5

Antes de ingressar na vida académica, acreditava que, para o exercício da profissão de jornalista, era necessária uma formação superior em Jornalismo/Comunicação, baseada em alguma teoria, mas mais ligada a uma vertente prática, que seria aplicada num estágio final promovido pela respetiva Universidade, de modo a que os alunos pudessem ingressar no mercado de trabalho com alguma experiência. No entanto, na minha opinião, há demasiadas cadeiras teóricas que no mercado de trabalho não contribuirão para um bom desempenho, pois se a teoria nos dá alguns fundamentos sobre o que é construir uma notícia (entrevista e/ou reportagem), na prática vemos que estes conceitos ficam muito aquém do exigido no mundo real do jornalismo.

Neste sentido, creio que a formação académica deve contribuir para uma formação mais virada para a prática, promovendo uma ligação entre as novas tecnologias de informação e o jornalismo, que tem que acompanhar a evolução dessas mesmas tecnologias, para que não se torne antiquado e desatualizado. Os diferentes cursos que existem na academia relativos à área da comunicação não estão ligados às novas tecnologias e, por isso, não preparam devidamente os seus alunos, também nessa vertente. A meu ver, a formação académica apenas poderia preparar melhor os seus alunos no que diz respeito ao uso das novas tecnologias no jornalismo. Quando terminassem a licenciatura, aqui sim, a academia poderia ajudar os seus alunos a ingressar no mercado de trabalho, não os abandonando e guiando-os na plataforma que estes escolhessem para trabalhar (imprensa, rádio, televisão ou online). Esta situação também não se verifica, já que quando concluímos uma unidade curricular, fica para trás não só a matéria, como também o contacto com o professor.

Posto isto, só posso afirmar que defendo uma formação técnica, em que é necessário haver uma parte reflexiva, mas, mais importante, um estudo e prática da técnica profissional, algo que transporte para a consciência dos alunos o que é ser jornalista, as vantagens e as desvantagens, ou seja, ensinar como é ser jornalista, não deixando esse trabalho exclusivamente para o estágio e consequente entrada no mercado de trabalho.

Em suma, durante o período letivo, sinto não existir ligação alguma entre a (nossa) academia e a profissão, pois não tive a oportunidade, através da academia ou por incentivo de professores, de visitar  nenhuma redação,  estúdio televisivo ou radiofónico que, na minha opinião, podiam clarificar a mente de muitos estudantes relativamente à vertente em que mais gostariam de trabalhar quando exercessem a profissão. Na fase de estágio, não falando por experiência própria, porque ainda não fiz qualquer tipo de estágio – curricular ou profissional -, acho que a academia deveria ter mais ligação entre o estudante e a entidade promotora, visto estar a aproximar-se a entrada do aluno no mercado de trabalho e ser necessário continuar a fazer o seu trabalho, formar profissionais em Jornalismo e Comunicação.

Ana Caiola | UNovaLisboa

Experiências#2

A etapa final da formação em Jornalismo na UMinho faz-se em Projeto de Jornalismo. É uma unidade curricular em que os estudantes desenvolvem um projeto de investigação jornalística numa lógica multimédia, articulando formatos, géneros e conhecimentos adquiridos não só na área do jornalismo, mas também em outras disciplinas da Licenciatura. Estes trabalhos são publicados em formato digital e, no último ano, tem-se procurado orientá-los na direção do jornalismo de dados (tanto quanto é possível fazê-lo). Em grupos de dois, os alunos podem escolher o tema que querem tratar, que tem de ser relevante, atual (ou, por algum motivo, ter ganho atualidade) e suportado pela leitura dos dados. Tudo isto sem esquecer “o apego a uma boa história”.

Este Projeto de Jornalismo tem sido também um espaço de aprendizagem para os professores, que a cada ano vão aprendendo como ensinar jornalismo para o “ambiente digital”. Por isso mesmo se refere no blogue onde estão publicados os trabalhos que esse é, acima de tudo, “um lugar de repouso sereno para o fruto de muitas horas de trabalho”.

Luís António Santos e Sandra Marinho | UMinho

Opiniões#4

1) Que vantagens vê numa formação académica em Jornalismo/Comunicação para o exercício da profissão de jornalista?
Lembro-me da forte impressão que me causava, nos idos dos anos de 1990, por alturas das férias escolares nos EUA, a leitura do pequeno texto de abertura da revista Time: “To our readers”. Um deles, pelo menos, era dedicado aos estagiários que nesse ano tinham sido acolhidos na redacção. Em termos sempre calorosos, o responsável de serviço dava-nos a conhecer quem era e donde vinha cada um. Motivo da forte impressão que me provocava essa leitura: as origens académicas eram as mais diversas, estendendo-se das Humanidades às Ciências.
Uma das maiores vantagens da formação académica em Jornalismo/Comunicação será a de que o candidato começou, mais cedo e de forma academicamente tutelada, a problematizar questões específicas da comunicação mediada e do exercício profissional. Mas também vejo com muito bons olhos a presença numa redacção de gente oriunda de outras disciplinas.
É verdade que o jornalismo integra, cada vez mais, contributos das pessoas antigamente conhecidas por audiências, e por isso essa diversidade disciplinar na formação académica dos seus praticantes será talvez, menos crucial. Mas confesso que a redacção ideal, para mim, continua a ser aquela que correspondesse à imagem que fazia da redacção da Time naquelas semanas de férias escolares: um cadinho onde se fundiam, ao serviço do jornalismo, todas as experiências e saberes – Direito, Matemáticas, Engenharias (nelas integradas hoje, claro, as informáticas, o multimédia, a computação gráfica), Economia, Gestão, Ciências Naturais, Medicina, História, Filosofia, Sociologia, Línguas e Literaturas e por aí adiante.
Sendo que este “por aí adiante” não é inimigo do exercício profissional por quem não tenha “canudo” para exibir. Não, o jornalismo não começou no ano em que saíram os primeiros licenciados da Nova. Licenciados de outros cursos foram passando, ao longo do século XX, pelas redacções portuguesas. Alguns bem ilustres. Como ilustres foram redactores, repórteres, articulistas que nem o liceu completo chegaram a fazer. Para não apontar exemplos cá de dentro: num texto já com mais de 20 anos, em que lamentava a emergência de uma nova cultura do trivial, da celebridade, da bisbilhotice e do sensacionalismo, orientada para as audiências, Carl Bernstein (o “outro”, do caso Watergate) contava que o jornal onde começou a trabalhar aos 16 anos tinha sido de algum modo a sua faculdade  — um local onde aprendera o sentido da perfeição e da procura “da mais fiel versão da verdade”, a noção dos ideais do interesse público e comunitário, da concorrência com princípios, do empenho no civismo e na decência. E que o bom jornalismo exige um considerável grau de coragem (“A minha geração, a vossa geração”, Público, 10.7.1994).

2) Que resposta deve a formação académica dar aos efeitos da associação do mercado e das novas tecnologias ao jornalismo?
Fica implícita nos parágrafos anteriores esta convicção de que (desculpe-me Terêncio o abuso), nada do que de interesse ocorre no mundo  pode ser estranho a uma redacção. Grave seria se a formação dos jornalistas descurasse as componentes tecnológicas, empresariais e organizacionais que estruturam e condicionam o campo.

3) Defende uma formação sobretudo técnica (estudo e prática da técnica profissional) ou alicerçada numa componente mais reflexiva (estudo do jornalismo integrado no universo mais vasto da comunicação)? Porquê?
Por tudo o que deixei dito, compreender-se-á que defenda mais do que isso. Defendo, simultaneamente, um alargamento das fronteiras dos saberes. Mas inverto a ordem: primeiro, os alicerces, a componente reflexiva; depois o estudo e prática das técnicas profissionais. Aproveito para sublinhar que incluo na expressão “componente mais reflexiva” as questões éticas e deontológicas da prática jornalística (hoje, mais do que nunca, distintivas do exercício profissional). Faço, de qualquer modo, um alerta que venho repetindo desde o II Congresso do Jornalistas (Deontologia, 1986): fazer jornalismo exige um apetrechamento cultural e profissional que permita entender os factos e os seus enjeux, encontrar a palavra exacta e usar os meios técnicos mais adequados para que o receptor entenda os significados. A ignorância, a mediocridade e a incompetência técnica constituem delitos contra a liberdade de expressão, contra o público e contra profissão.

4) Que ligação deve existir entre a academia (cursos de jornalismo) e a profissão, durante o período letivo e na fase de estágio?
A melhor e mais enriquecedora possível. Chamando à docência ou convidando para seminários ou conferências, profissionais no activo e antigos profissionais. Tomando iniciativas ou aproveitando realizações que propiciem a imersão dos alunos em ambiente jornalístico (visitas, debates, filmes, trabalhos práticos). Daquelas que conheço directamente ou de que vou recebendo notícia, tenho muita expectativa em ver, dentro de dois ou três anos, os resultados das experiências em curso em mestrados e pós-graduações na FCSH/UNL, no ISCTE e na UAL. No que respeita aos estágios, as más experiências chegam para que se imponha uma revisão séria do sistema, num diálogo entre a escola, as empresas, e a profissão.

Adelino Gomes | Jornalista | CIES IULisboa

Trabalhos#2

No laboratório em que habitualmente transformo as minhas aulas, analisamos conteúdos jornalísticos promotores de debate e impulsionadores da articulação entre a dimensão concetual e a operativa, assumindo o resultado da ação jornalística quotidiana o espelho dessa articulação. Neste sentido, trabalhamos, essencialmente, a reportagem, o género que, na sua essência, promove essa síntese. O jornalismo de investigação, produto supremo da articulação entre método e ação, ou entre a dimensão reflexiva, propiciada pela dinâmica académica, e o exercício profissional quotidiano, é o molde que seleciona os conteúdos que seleciono. Aos trabalhos de jornalistas portugueses e estrangeiros, associo alguns exemplares do meu portefólio pessoal.

São trabalhos de persistência, de confronto permanente de fontes, onde a relação jornalista – fontes suscita os mais diversos debates. Representam, no fundo, a síntese de dois mundos – academia e profissão – que me esforço por entrecruzar, num exercício de valorização permanente da identidade que molda cada um deles.

A GR Profissão Ex- ministro (2012) investiga meia centena de governantes que fizeram do poder uma porta giratória com o mundo dos negócios, expondo a complexa mistura de papéis e o que essa mistura suscita.

Pedro Coelho | UNovaLisboa | SIC

Opiniões#3

1) Que vantagens vê numa formação académica em Jornalismo/Comunicação para o exercício da profissão de jornalista?
A formação académica em Jornalismo traz, no meu entender, o grande benefício de permitir um contacto aprofundado com os autores, obras e correntes fundamentais na área da comunicação. Sendo a vertente prática uma mais-valia para quem começa a exercer a profissão, não pode nem deve descurar-se a importância teórica da formação como alicerce de uma prática reflexiva, fundamentada e regida pelos valores fundamentais do jornalismo, designadamente ao nível ético e deontológico.

 2) Que resposta deve a formação académica dar aos efeitos da associação do mercado e das novas tecnologias ao jornalismo?
Face ao atual impacto das novas tecnologias no exercício da profissão, creio que a formação académica deverá integrar, cada vez mais, a componente tecnológica na sua dinâmica. Deverá abarcá-la, analisá-la e sobretudo levar o aluno, futuro jornalista, a questionar-se sobre os alcances e desafios do mundo tecnológico na prática da comunicação.

3) Defende uma formação sobretudo técnica (estudo e prática da técnica profissional) ou alicerçada numa componente mais reflexiva (estudo do jornalismo integrado no universo mais vasto da comunicação)? Porquê?
Acredito que a formação será mais benéfica quanto mais técnica e reflexiva for. Se, por um lado, é essencial o estudo aprofundado dos autores e matrizes do jornalismo no universo da comunicação, por outro, o contacto com a técnica e prática profissional é uma mais-valia na entrada do mercado de trabalho. Nesse sentido, a complementaridade destas duas vertentes proporciona uma aprendizagem sólida e completa.

 4) Que ligação deve existir entre a academia (cursos de jornalismo) e a profissão, durante o período letivo e na fase de estágio?
Creio que a promoção do debate entre alunos e profissionais pode trazer uma nova roupagem ao jornalismo. Parece-me cada vez mais interessante esse intercâmbio de contributos e visões entre quem está na profissão e quem nela pretende estar. A ausência de diálogo e reflexão, que tantas vezes impera nas próprias redações, deve ser combatida entre os profissionais e promovida junto dos alunos. Nesse sentido, acredito que a interação entre a academia e as empresas só tem a ganhar. Os estágios finais são um exemplo, mas a promoção de colóquios, fóruns e colaborações durante o curso poderá ser igualmente benéfica para os futuros jornalistas.

Maria Miguel Cabo | UNovaLisboa | ULusófonaHT | jornalista SIC

Experiências#1

O Luís António Santos  recomenda que se descubra um pouco mais sobre um jornalista recentemente desaparecido, o responsável pela coluna ‘Media Equation’ no NYTimes, David Carr.

O espaço que criou na plataforma Medium, de apoio a uma disciplina de jornalismo na Boston University (Press Play), é um repositório muito claro de pistas sobre a sua personalidade, de indicadores sobre a sua postura face à profissão mas, sobretudo, de propostas para estudantes de jornalismo.

O David Carr era um brilhante homem cheio de falhas.
Escrevia texto cru e dizia que o jornalismo não podia viver só do estilo (há um excerto brilhante num documentário de 2011 que também se recomenda – Page One – em que Carr confronta, de forma bem enérgica, ‘jornalistas hipsters’).

Este excerto é bem testemunho de tudo isto:
“Your professor is a terrible singer and a decent dancer. He is a movie crier but stone-faced in real life. He never laughs even when he is actually amused. He hates suck-ups, people who treat waitresses and cab drivers poorly and anybody who thinks diversity is just an academic conceit. He is a big sucker for the hard worker and is rarely dazzled by brilliance. He has little patience for people who pretend to ask questions when all they really want to do is make a speech.
He has a lot of ideas about a lot of things, some of which are good. We will figure out which is which together. He likes being challenged. He is an idiosyncratic speaker, often beginning in the middle of a story, and is used to being told that people have no idea what he is talking about. It’s fine to be one of those people. In Press Play, he will strive to be a lucid, linear communicator.
Your professor is fair, fundamentally friendly, a little odd, but not very mysterious. If you want to know where you stand, just ask.”

 Luís António Santos | UMinho

Opiniões#2

1) Que vantagens vê numa formação académica em Jornalismo/Comunicação para o exercício da profissão de jornalista?
Uma formação académica em Jornalismo ou Comunicação revela-se fulcral no exercício da profissão de jornalista. A meu ver, transmite-nos conhecimentos globais e básicos da comunicação que de outra forma não iríamos obter. É claro que existem diversas pessoas a exercer a profissão sem formação directa na área, mas continuo a achar que é de extrema importância frequentar formação académica adequada de forma a obter conhecimentos mais teóricos que se encontram na base das Ciências da Comunicação.

2) Que resposta deve a formação académica dar aos efeitos da associação do mercado e das novas tecnologias ao jornalismo?
Apesar de concordar que os conhecimentos teóricos são de extrema importância para exercer o profissão de jornalista, considero que neste momento a oferta académica em Portugal se foca demasiado na teoria e menos na prática, ou seja, nós, alunos, somos preparados para ser teóricos e pouco preparados “para ir para a rua fazer jornalismo”. Hoje em dia e com os avanços tecnológicos, considero que a educação em jornalismo está pouco preparada e as universidades dispõem de poucos recursos tecnológicos.
A meu ver, os alunos não são preparados para o mercado de trabalho. Essa preparação só existe durante os estágios e nem todos os cursos dispõem dessa opção.

 3) Defende uma formação sobretudo técnica (estudo e prática da técnica profissional) ou alicerçada numa componente mais reflexiva (estudo do jornalismo integrado no universo mais vasto da comunicação)? Porquê?
Na minha opinião, a formação deve fazer uma conjugação equilibrada entre uma componente técnica e uma componente reflexiva. Uma não pode, ou não deverá, existir sem a outra. Não existe teoria sem haver prática e vice-versa. Um aluno de comunicação deve terminar uma formação com conhecimentos teóricos e deve também dominar técnicas mais práticas e profissionais.

4) Que ligação deve existir entre a academia (cursos de jornalismo) e a profissão, durante o período letivo e na fase de estágio?
Como já disse, deve haver uma maior ligação de modo a preparar os alunos para o mercado de trabalho.
Durante o período lectivo, deve existir um maior contacto com redacções e entidades empregadoras e durante o estágio deverá existir um orientador ou alguém com quem se pode esclarecer dúvidas, tal como acontece actualmente.

Filipa Gaspar | UMinho | UNovaLisboa | estagiária SIC

Trabalhos#1

Esta é uma reportagem que foi emitida pela Aljazeera em 2014. Trata-se de um extraordinário trabalho de investigação que tenho discutido com os alunos, nas aulas de mestrado que leciono na UNL. No essencial, esta reportagem, Haiti in a Time of Cholera, aproxima-nos de três linhas complementares de interpretação. Primeira: a televisão deve ser uma plataforma de acolhimento da investigação jornalística e suscitar novas abordagens formais que a valorizem, promovendo a adesão dos telespectadores; segunda: a persistência e a resistência são características que devem mobilizar os jornalistas envolvidos e as organizações que suportam esses trabalhos; terceira: ultrapassar os constrangimentos provocados pelo mercado, acreditando que o investimento na credibilidade pode gerar receitas sociais e económicas em prazos mais dilatados.

O visionamento crítico deste trabalho prova-nos que a rentabilidade gerada pela exposição da credibilidade é a receita que coloca a Aljazeera no pedestal da informação televisiva a nível global.

Pedro Coelho | UNovaLisboa | SIC

 

Opiniões#1

1) Que vantagens vê numa formação académica em Jornalismo/Comunicação para o exercício da profissão de jornalista?
Não tenho uma resposta categórica para esta questão. Diria apenas que depende de que exercício da profissão de jornalista se trata e de que formação académica se trata. Há atividades jornalísticas para as quais é mais importante ter, por exemplo, uma formação jurídica, económica e há atividades jornalísticas para as quais nem será preciso qualquer formação académica, como por exemplo, a atividade dos jornalistas que se limitam a recortar e a colar despachos de agências noticiosas. É por isso que sempre defendi a autonomia dos cursos de comunicação em relação ao exercício de qualquer profissão. Muitas das atividades profissionais aprendem-se no terreno, nas empresas. As vantagens da formação académica qualquer que ela seja, em jornalismo, tal como em direito, em medicina, em engenharia ou em qualquer curso académico dependem daquilo que os diplomados nesses cursos fazem dela, das qualidades pessoais de cada um. É por isso normal que haja excelentes profissionais que não têm qualquer formação académica ou formação académica noutra área e excelentes académicos que seriam péssimos profissionais. Já Aristóteles distinguia claramente duas modalidades de inteligência, a que tem a ver com a episteme e a que tem a ver com a techné. Pode-se ter um excelente domínio da techné e não ter capacidade no domínio da episteme e vice-versa. É claro que o ideal seria ser competente nas duas esferas, mas nós sabemos que não somos seres ideais.

2) Que resposta deve a formação académica dar aos efeitos da associação do mercado e das novas tecnologias ao jornalismo?
A formação académica não existe para dar resposta aos efeitos do mercado. Para isso existe a esfera da luta política dos cidadãos. A formação académica está a montante dessa esfera: tem por função formar cidadãos esclarecidos capazes de escolherem as suas lutas e de as levarem para a frente com determinação e solidariedade.

3) Defende uma formação sobretudo técnica (estudo e prática da técnica profissional) ou alicerçada numa componente mais reflexiva (estudo do jornalismo integrado no universo mais vasto da comunicação)? Porquê?
Depende dos objetivos que as pessoas têm para as suas vidas. Há certamente pessoas que procuram uma formação técnica e, nesse caso, podem encontrar a resposta aos seus objetivos junto das empresas que melhor podem assegurar essa formação. Mas há pessoas que procuram uma formação que os habilite a pensar e a refletir e nesse caso creio que nas sociedades ocidentais é sobretudo à Universidade que compete responder a esse objetivo. O que a Universidade nunca poderá satisfazer são os objetivos meramente técnicos, porque não é esse a sua missão nem é essa a sua competência.

4) Que ligação deve existir entre a academia (cursos de jornalismo) e a profissão, durante o período letivo e na fase de estágio?
Deve haver uma ligação de mero enquadramento e colaboração. Seria desastroso que a Universidade dependesse dessa ligação e que passasse a definir o perfil da sua formação em função da demanda profissional, tal como seria desastroso que os objetivos empresariais das empresas jornalísticas dependessem dos objetivos universitários. No mundo moderno, qualquer confusão entre a esfera empresarial e o domínio académico é intolerável, porque não respeita a autonomia de cada uma das esferas. Isto não quer dizer que não haja uma colaboração clara e proveitosa, mas ela será tanto mais proveitosa quanto mais respeitadora da autonomia das duas esferas.

Adriano Duarte Rodrigues | professor e investigador UNovaLisboa