A formação académica em Jornalismo/Comunicação é essencial para o exercício da profissão. A articulação entre uma formação teórica sólida combinada com a componente prática tem de ser a base para os futuros jornalistas. Naturalmente que o cruzamento com outras áreas do saber não deve ser esquecido. E as Ciências da Comunicação são, por excelência, um campo interdisciplinar que problematiza de forma integrada os desafios que se colocam ao Jornalismo. Numa era em que a instantaneidade e a mobilidade dominam uma cada vez mais complexa sociedade, é impossível pensar a formação do Jornalismo meramente técnica ou desgarrada do complexo universo da Comunicação.
É hoje utópico pensar o ensino do Jornalismo/Comunicação sem a tecnologia. Excluindo obviamente um determinismo tecnicista, não concebo o ensino do Jornalismo/Comunicação sem recurso às novas tecnologias de uma forma integrada, tanto no domínio prático como no teórico. A utilização da tecnologia não é apenas uma exigência do mercado. É uma exigência global que nos permite expandir o conhecimento e a técnica da sala de aula para a rede e vice-versa.
Assumindo que as fronteiras entre a produção e a recepção são cada vez mais ténues, a universidade serve para dar aos futuros jornalistas uma sólida base prática que permitirá o exercício da profissão. Mas não há prática sem teoria. É impossível que a prática não reflita as bases fundamentais do Jornalismo. A universidade é, por excelência, um espaço de conhecimento. E é na universidade que os futuros jornalistas devem refletir de forma interdisciplinar sobre a sua futura profissão e o seu vasto contexto.
Há (ainda) quem defenda que a formação de um jornalista deve passar por outras áreas do saber. Na minha perspetiva, uma especialização noutra área será sempre complementar a uma formação de base em Jornalismo/Comunicação. A “tarimba” é importante e será sempre importante. Mas não substitui a formação. Teremos sempre os argumentos de que “antes era de outra forma”. Sem dúvida que sim. Não existia formação em Comunicação e as redações foram a formação de muitos jornalistas que, felizmente, reconheceram a importância da universidade e são hoje professores.
Nos tempos da faculdade, um professor (e jornalista) dizia-nos muitas vezes que não se ensinava a fazer Jornalismo mas a pensar sobre o Jornalismo e como fazer Jornalismo. Não tenho nenhuma dúvida de que é esse é o papel da universidade. Fornecer ferramentas para uma formação sólida que permita a simulação da prática de forma reflectida e problematizada.
As exigências do mercado de trabalho implicam a integração da prática simulada na formação académica. A integração num mercado de trabalho competitivo implica que os futuros jornalistas sejam capazes de se adaptar a um sector que está em permanente mutação. A universidade tem de ser capaz de dar uma resposta objetiva a estas exigências através de unidades curriculares práticas que potenciem a aquisição de experiência e competências em ambiente de trabalho simulado. No entanto, e porque o contexto de formação assim o permite, os laboratórios devem promover uma prática reflexiva da teoria. A formação académica em Jornalismo/Comunicação deve combinar a formação prática avançada com uma reflexão aprofundada sobre processos, conteúdos e produtos jornalísticos.
A articulação entre a Academia e a profissão parecem-me um requisito da formação em Jornalismo/Comunicação. Esta ligação pode e deve acontecer pela integração de profissionais no corpo docente, desenvolvimento de atividades curriculares com meios de comunicação social, assim como pela promoção de estágios extracurriculares. Considero que os estágios curriculares devem ser repensados. A inserção no contexto profissional não pode ser feita apenas em três meses, pelo que me parece absolutamente essencial que a formação prática dos futuros jornalistas seja complementada neste período. O estágio não pode ser o primeiro contacto com a prática. De forma alguma. Neste sentido, julgo que o estágio curricular deve ser mais um passo na formação dos jornalistas, dando continuidade a uma formação sólida.
Inês Amaral | UMinho | UAutónomaLisboa | ISMiguelTorga