Arquivo mensal: Outubro 2015

Opiniões#16

1) Que vantagens vê numa formação académica em Jornalismo/Comunicação para o exercício da profissão de jornalista?

A formação académica parece uma condição muito conveniente, ou mesmo inteiramente necessária, para a preparação do jornalista e outras profissões no campo da comunicação. O mesmo se poderia dizer de outras profissões cuja formação específica especializada requer prévia ou simultânea formação fundamental, de natureza intelectual, científica, cultural, social e política do mais elevado grau, mediante, processos de aprendizagem e de aquisição longos, experimentados e fiáveis, como são de modo ímpar e em princípio os definidos e praticados pelas universidades. Dir-se-ia que a formação académica ou “superior” tenderia a tomar-se regra geral como preparação para o exercício competente de uma especialidade profissional de nível superior, quer de carácter científico, quer de carácter humano e social.

Esta evidência, em perspectiva geral e à luz de conceitos e princípios relevantes, desvanece-se quando temos de considerar mais distintamente, por um lado, as qualidades, as competências e os desempenhos requeridos do profissional de jornalismo (e especialidades de comunicação associadas), e, por outro, os conhecimentos, os métodos e os procedimentos de ordem científica, cultural e técnica, concebidos e aplicados nos programas de formação académica, particularmente na formação inicial em qualquer ramo científico. A criação de cursos universitários de jornalismo e de comunicação, ainda bem recente, confrontou-se com aquela dificuldade e incerteza. Mas o apelo e a convicção atingiram tal vigor que não só venceram as hesitações como motivaram um espectacular surto de tais cursos em modalidades tão variedades e em tão elevado número que inspiraram a irónica mas feliz expressão da “multiplicação dos cursos de comunicação e de jornalismo”. Foi o período dos começos de há cerca de quatro décadas… Vieram para ficar, em número mais reduzido, mas ganhando novas formas, até ao reconhecido desenvolvimento de hoje, com provas dadas, mas prosseguindo caminho.

O próprio acontecimento desta iniciativa de consulta insere-se num processo histórico de permanente renovação das funções e acções que Universidade e Jornalismo devem à Sociedade de que são parte. Este esforço contínuo de apreender o que se vai descobrindo como necessário à mais adequada formação académica para um pretendido desempenho da profissão de jornalista, tem sido adoptado pelos responsáveis académicos em estreita cooperação com dirigentes e profissionais do jornalismo e da comunicação, designadamente no caso especial da formação que é o estágio em meio institucional profissional. E com inegáveis resultados favoráveis.

 2) Que resposta deve a formação académica dar aos efeitos da associação do mercado e das novas tecnologias ao jornalismo?

A análise do contexto social actual, em geral, e no respeitante à dimensão económica e ao mercado, em particular, tal como à recente e contínua revolução científica, tecnológica, social, política e global, diz respeito a todos os agentes sociais, e também, naturalmente, aos que têm a seu cargo dirigir, cuidar e assegurar continuamente as Instituições académicas e as Instituições de Jornalismo e de comunicação social. Mas a estas cabe prioritariamente concentrar-se naquilo que lhes é próprio. Assim, a formação académica de base, que compete à Universidade, diz essencialmente respeito ao saber científico, que não excluindo outros, não deverá de modo algum ser-lhes preterido, ou sequer por eles condicionado, no programa curricular sistematicamente concebido e progressivamente realizado, como percurso ou curso científico, qualquer que seja a disciplina, vertente, especialidade, que as Universidades e Instituições a elas associadas vão autorizando e assegurando.

3) Defende uma formação sobretudo técnica (estudo e prática da técnica profissional) ou alicerçada numa componente mais reflexiva (estudo do Jornalismo integrado no universo mais vasto da Comunicação)? Porquê?

O que foi expresso nas perguntas anteriores já responde implicitamente a esta. A aprendizagem das dimensões técnicas requeridas pelos desempenhos profissionais deve naturalmente ser contemplada e conseguida ao longo da formação académica, como dimensão complementar indispensável. Mas certamente a um nível de iniciação e sem prejuízo do processo de aprofundamento intelectual de teorias e métodos que conduzam à efectiva capacidade de pensamento próprio e sua adequada expressão.

 4) Que ligação deve existir entre a academia (cursos de Jornalismo/Comunicação) e a profissão, durante o período lectivo e na fase de estágio?

As relações entre a Universidade e o Jornalismo decorrem das suas respectivas natureza e função, distintas e autónomas, e solidariamente participantes na mesma sociedade, incluindo em dimensões de relevância e interesse comuns. É especialmente o caso da formação escolar e académica. É evidente, a um nível geral. Se, de algum modo, nada de humano é alheio à Universidade e ao Jornalismo e à Comunicação, a natureza e âmbito dos objectos e objectivos, dos modos e dos métodos, das missões e programas de acção, das Instituições e Organismos da esfera académica e da esfera do jornalismo são muito distintos e é nessa distinção que a sua desejável colaboração poderá encontrar formas de interesse e benefício mútuos. As dificuldades surgem ao nível das possibilidades, condições concretas e tantas vezes demasiado limitadas para conceber programas adequados e levá-los até à efectiva realização. A recente história do desenvolvimento dos cursos de comunicação e jornalismo oferece já experiências de grande valor para acertar passos que se tenham revelado aquém dos objectivos prosseguidos ou dos que progressivamente vão sendo reformulados. Como é próprio dos saberes e das ciências, bem como de outros projectos humanos.

Aníbal Alves | professor emérito UMinho | UCatólicaPortuguesa