Arquivo mensal: Abril 2015

Documentos#2

Uma das séries que compõem a linha de Publicações da Unesco dedica-se ao ensino do Jornalismo. Deixamos aqui a referência a duas publicações, uma de 2007 e a actualização de 2013, sobre modelos de formação em Jornalismo, com a proposta de Programas detalhados de Unidades Curriculares. O Model Curricula for Journalism Education (2007) está aqui (com versão portuguesa) e o Model Curricula for Journalism Education: a compendium of new syllabi (2013) encontra-se aqui.

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Opiniões#6

A formação superior específica em Jornalismo é essencial ao exercício da profissão. Se o futuro jornalista não possuir uma licenciatura em Ciências da Comunicação ou Jornalismo,  deverá adquirir formação ao nível do 2º ciclo ou 3º ciclo (pós-graduação, mestrado ou doutoramento) nessa área. Essa experiência é condição necessária para adquirir as competências necessárias, não só ao nível do domínio das linguagens técnicas, como sobretudo fluência teórica com a história, a ética e os efeitos do Jornalismo no espaço público, na construção da cidadania e no reforço da democracia.

A universidade que oferece a formação e o mercado que assegura as oportunidades de trabalho são dois espaços distintos e devem preservar a sua identidade. Neste momento, o risco de diluição identitária afecta mais a universidade do que o mercado, que se tornou uma força dominante e universal. A universidade deve lutar para preservar a sua autonomia e a sua definição primordial como espaço de conhecimento, investigação, reflexão e problematização útil e visível na comunidade sobre os problemas e os desafios do mundo, incluindo aqueles que se colocam especificamente ao Jornalismo. Este foco não significa um desligamento de uma exigência de competitividade, sustentabilidade e adaptabilidade, valores eminentemente económicos, que devem também ser incorporados na dinâmica evolutiva dos cursos de Jornalismo, incluindo na necessidade de integrar as novas tecnologias da informação nas práticas de ensino e na abertura às empresas e aos profissionais. Mas vejo esta conciliação sem sacrifício das prioridades, que devem continuar a estar centradas na oferta de um conjunto estruturado e coerente de disciplinas alicerçadas na herança e nas preocupações das ciências sociais e das ciências da comunicação. Este núcleo de pensamento é, pela sua própria natureza, interdisciplinar, e permite cruzamentos com as artes, as tecnologias e as humanidades.

Os estágios curriculares e profissionais são uma das áreas cruciais que estabelecem a ponte entre a universidade e as empresas jornalísticas e devem ser monitorizados enquanto período de experimentação e de aprendizagem. A universidade deveria estar mais próxima dos seus estagiários e criar gabinetes especializados no acompanhamento dos estágios e na inserção na vida profissional. A integração de profissionais na docência, em todos os ciclos de estudo, a oferta de cursos livres ministrados por profissionais, o desenvolvimento de unidades curriculares voltadas para a prática jornalística e o estabelecimento de parcerias ao nível da investigação e da produção de conteúdos jornalísticos semi-profissionais são formas de reduzir a distância entre o mundo académico e o mundo profissional que ainda carecem de mais interesse e aposta.

Carla Baptista | UNovaLisboa

Experiências#3

Uma das regras que desde sempre me impus, quando se trata de dar aulas em Atelier ou Laboratório de Jornalismo, é começar por olhar (e comentar) a actualidade informativa. “Que se passa no país e no mundo?”, é a minha primeira pergunta no início de cada aula. E começa ali uma observação da realidade circundante que pode acabar nos sítios mais imprevisíveis. Um exemplo: há tempos, falou-se da prisão de José Sócrates e de duas expressões muito repetidas nesse contexto – a “presunção de inocência” e o “trânsito em julgado”. Quase todos os alunos (futuros jornalistas) sabiam o que é a “presunção de inocência”; nenhum sabia o que é o “trânsito em julgado”. E partimos dali para uma longa conversa sobre como está organizada a justiça em Portugal, que tipo de tribunais há, como se desenrolam os processos, o que é um “juiz de instrução”, o que significa ser “arguido”, que tipo de cobertura destes assuntos fazem jornais mais populares ou mais “de referência”, onde é que se procura informação, o que é o “segredo de justiça”, etc., etc. Ou seja, aspectos muito presentes na actualidade de todos os meios de comunicação social, mas cujo significado ou relevância as pessoas em grande parte desconhecem. E o mesmo se pode dizer de muitos jornalistas. Perceber o que querem dizer as expressões que nos fartamos de repetir mecanicamente é, também, uma exigência de qualquer profissional que se preze. E isto pode fazer-se a partir de uma simples conversa sobre as “notícias do dia”.

Imagine-se o que é possível conversar (e aprender) quando se apresentam à turma do Atelier de Imprensa, as primeiras páginas dos cinco jornais diários generalistas de âmbito nacional, todas de um mesmo dia:

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Joaquim Fidalgo | Jornalista | UMinho