1) Que vantagens vê numa formação académica em Jornalismo/Comunicação para o exercício da profissão de jornalista?
Reflectir, problematizar, questionar, analisar, estudar, ou seja, treinar e estimular o olhar crítico e reflexivo sobre o jornalismo, a profissão, as práticas jornalísticas, sobre os media na sociedade, o seu papel, a sua história e desafios, sobre o seu futuro. Mas simultaneamente permitir um olhar transversal porque tudo se cruza e o jornalismo não está isolado do resto dos saberes.
2) Que resposta deve a formação académica dar aos efeitos da associação do mercado e das novas tecnologias ao jornalismo?
A formação académica deve ter em conta as necessidades do mercado mas não deve viver em função do mercado porque a formação em jornalismo não se esgota, nem deve, nas práticas jornalísticas, ie, no exercício da profissão. Seria demasiado redutor. A Universidade é um espaço de reflexão e de produção de saber que vai muito além da formação de profissionais. Acredito que a Universidade não deve estar ao serviço do mercado de trabalho, são duas realidades distintas com objectivos e funcionamentos diferentes. Mas, também não pode viver de costas voltadas para as necessidades e funcionamento do mercado e das novas tecnologias. A perfeição vive desse equilíbrio, difícil, e em permanente mutação. A relação entre o jornalismo e a academia não se tem modificado apesar das redacções, hoje em dia, serem maioritariamente formadas por profissionais com formação superior oriundos das universidades. Cabe a estas últimas gerações de jornalistas e aos académicos que antes eram jornalistas continuar a contribuir para a mudança de mentalidades e ‘aliviar o peso da ‘teoria vs prática’.
3) Defende uma formação sobretudo técnica (estudo e prática da técnica profissional) ou alicerçada numa componente mais reflexiva (estudo do Jornalismo integrado no universo mais vasto da Comunicação)? Porquê?
Ambas. Não podemos apenas alicerçar-nos apenas numa única. O jornalismo enriquece-se com ambas. Um profissional não é aquele que domina a técnica, é aquele que sabe ‘ser jornalista’. Tal como não é aquele que domina todas as teorias mas que não consegue reconhecer a notícia nem comunicá-la. É importante uma boa formação teórica, ética e deontológica aliada à prática e ao uso das novas tecnologias. O fim deve ser o que nos orienta: um profissional completo que saiba lidar com o dia-a-dia, mas que também reflicta sobre como noticia, sobre a realidade que noticia, e o mundo que o envolve.
4) Que ligação deve existir entre a academia (cursos de Jornalismo/Comunicação) e a profissão, durante o período lectivo e na fase de estágio?
Os exemplos das redacções integradas em que os jornalistas e os estudantes de jornalismo se cruzam num mesmo espaço ou trabalham de forma integrada são uma experiência interessante e com algumas virtualidades. Uma delas é a da aproximação entre a academia e o mercado de trabalho em que ambos convergem para um mesmo espaço e dão contributos para a formação dos futuros profissionais. Todos aprendem: jornalistas, estudantes, professores, ie, o mercado de trabalho, os futuros profissionais e a academia. É também uma oportunidade para se derrubarem os muros do preconceito que dividem a prática e a teoria. O estágio é sobretudo um período de aprendizagem em que os estudantes têm a oportunidade de observar e de aplicar, praticar, o que foram aprendendo ao longo da sua formação, mas agora num ambiente real desde que devidamente orientados pelas partes envolvidas no estágio (universidades e empresas de órgãos de comunicação social) e desde que não se perca de vista que o estatuto de estagiário – alguém que não deixou de ser um estudante mas que ainda não é um profissional.
Ana Isabel Reis | UPorto