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Mais Vida

Nos morimos por vivir.
Nos morimos por vivir.

Morremos para viver? A tradução adequada do espanhol “nos morimos por vivir” talvez seja “estamos mortos por viver”. “Nos morimos por vivir” é um anúncio de sensibilização da Coca-Cola Journey España para a marca Aquarius. Incide sobre a doação de órgãos em Espanha, “o primeiro país do mundo em doação de órgãos”. Aposta na vitalidade e na jovialidade coroadas por um gesto que renova a vida: a doação de órgãos, a passagem da chama. Este anúncio, na linha de outros congéneres, suscita uma questão inconveniente mas difícil de contornar: por que motivo a qualidade e a criatividade das campanhas de sensibilização governamentais e de organizações não governamentais (ONG) tendem a ficar aquém das campanhas de sensibilização lançadas por entidades privadas? Por que é que umas conseguem fazer dois em um (sensibilizar e cativar para a marca) quando outras nem um conseguem alcançar (sensibilizar)?

Marca: Aquarius. Título: Nos morimos por vivir. Agência: McCann. Espanha, Janeiro de 2017.

 

Nem a morte nos separa

Amantes de Valdaro. Neolítico. Mântua. Itália
Amantes de Valdaro. Neolítico. Mântua. Itália

Neste tempo em que a inteligência anda tão estúpida, urge recuperar a sabedoria. “A sisudez é a armadura dos parvos” (Montesquieu).

Pompeia 1
Pompeia 1

Descobertos no norte de Itália, em Mântua, os Amantes de Valdaro são um caso raro de esqueletos adultos abraçados. Se não fosse um anacronismo, diria que exalam um efeito de hiper-realidade. Apresentam-se, assim, despojados de carne, mais reais do que o real. Lembram Pompeia, essa Sodoma latina em que não é preciso olhar para trás para se ficar petrificado.

Pompeia 2
Pompeia 2

Há imagens de morte que arrepiam os neurónios e avariam a fé. Assinalam como é ténue e absurda a fronteira entre a vida e a morte: um campo de concentração, um acidente rodoviário, um atentado terrorista, uma catástrofe natural… No ano 79, as cinzas do Vesúvio sepultaram Pompeia e Herculano. As vítimas petrificadas parecem não ter completado a passagem. Ainda comunicam. Duas cidades enterradas vivas, cujas ruínas só foram descobertas cerca de 1 600 anos depois. Formas únicas, assombrosas. A tragédia da vida na dança da morte.

Pompeia 3
Pompeia 3

Os Pink Floyd são conhecidos pelas suas extravagâncias. As gravações ao vivo, em 1971, nas ruínas do Anfiteatro de Pompeia não constam entre as menores: o filme de um espectáculo sem público num palco improvável. Não obstante, a música dos Pink Floyd ecoa à perfeição nesta galeria de fantasmas sólidos (ver https://www.youtube.com/watch?v=Y9BQhmIShrg). Durante séculos, os pintores tentaram, em vão, fixar na tela o momento da morte. O Vesúvio conseguiu esculpi-lo, em poucos minutos.