Todos os artigos de Sofia Gomes
A morte aos olhos de todos
A última semana foi, no que toca aos media, uma semana preenchida por notícias que se relacionam com a temática central deste projeto: a morte. Se, por um lado, os jornais e as televisões se centraram na transladação do corpo de Eusébio da Silva Ferreira, na sexta-feira, dia 3 de julho de 2015, por outro lado, e apenas uns dias depois, surgiu a notícia do falecimento de Maria Barroso, a 7 de julho, e funeral, no dia seguinte.
A proximidade temporal com que estes dois acontecimentos se realizaram e o modo como os meios de comunicação social se centraram neles servem de mote para refletir sobre a evidência de que as emoções (especialmente em casos de morte) são exploradas pelos media.
Sem dúvida, “descrever e relatar emoções tornou-se parte da comunicação social, da esfera pública e privada” (Vilaça, 2013: 40). De facto, apesar de a morte ser um assunto antigo para os media, a forma como é tratada tem vindo a evoluir. “Os jornais e as televisões lidam com a morte, alcançando um certo estatuto de noticiabilidade e adquirindo critérios de tratamento informativo” (ibidem).
A cobertura destes dois acontecimentos corrobora Madalena Oliveira (2005) quando a investigadora afirma que “sentir a morte que acontece é algo com que os media nos familiarizaram”. Sem dúvida, os jornalistas foram e são os nossos olhos diante da morte. Contam-nos o “horror da morte”.
E nós assistimos… cada vez mais familiarizados com esta situação. A morte, estampada nos media, recorda-nos que um dia todos nós passaremos por algo idêntico, querendo ou não.
Moisés Martins fala sobre Média e Cultura em BH
Entre os dias 18 e 20 de novembro de 2014, Moisés de Lemos Martins esteve na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em Belo Horizonte, para ministrar o curso “Mídia e Cultura Contemporânea”.
O evento, que decorreu em três dias, começou por tratar questões como o estilhaçamento da cultura na contemporaneidade. Segundo Moisés Martins, a relação entre homem e máquina e a crescente importância da cibernética são alguns dos motivos que justificam este estilhaçamento. O professor e investigador da Universidade do Minho destacou, aqui, a relevância e o papel do controlo de informações e da vigilância. Sobre a questão do estilhaçamento da cultura, Moisés Martins afirmou, ainda, que a sociedade atual se caracteriza pelo uso de tecnologias de informação, em detrimento da comunicação, impossibilitando ou dificultando a relação com o outro.
No segundo dia, Moisés Martins dedicou-se à questão da passagem de um regime centrado no logos, ou na palavra, para um regime centrado no pathos, ou seja, nas emoções. Para o investigador, regista-se, portanto, “um deslocamento do consciente para o inconsciente”.
Seguindo a perspetiva de Moisés Martins, verifica-se, então, uma subversão ao nível do imaginário, sobrepondo-se o trágico (contradições sem ‘happy end’) ao dramático (contradições superadas por uma síntese redentora); o barroco (formas onde predominam as linhas curvas, as concavidades e as sombras) ao clássico (formas de linhas direitas e de superfícies transparentes); e o grotesco (dos valores invertidos e o rebaixados) ao sublime (dos valores superiores e universais).
Dedicado ao tema da imagem, o terceiro dia contou com a análise de elementos visuais, narrativas de videoclipes, publicidades e desfiles de moda. Cada um destes exemplos serviu de mote para que Moisés Martins discutisse as alterações que a sociedade contemporânea tem vivido e as produções imagéticas desta mesma sociedade.
Adriana Bravin, jornalista e doutoranda em Comunicação na UFMG refere que o minicurso ministrado pelo professor Moisés lhe permitiu “refletir sobre como os modos de organizar vida e pensamento, cultura e mídia, e especialmente a produção de imagens, são profundamente afetados, e mesmo deslocados, pela sociedade tecnológica”. Segundo Adriana, “trata-se de um regime contemporâneo do viver sob o prisma da comunicação generalizada, por meio das tecnologias da informação, do mercado global e da produção/circulação incessante de imagens”. Para Adriana Bravin, “compreende-se que imagens que dizem de uma certa melancolia, desesperança, instabilidade, visíveis em peças publicitárias, videoclipes e no mundo da moda, por exemplo, nos falam de um viver sob o prisma dos múltiplos agoras, do presentismo e da emoção”.
Cristian Góes, também jornalista e doutorando da UFMG, com uma tese que foca a produção jornalística de temas ligados a lusofonia nas últimas duas décadas no Brasil, reflete sobre os contributos deste seminário para a sua investigação: “Estou trabalhando com a ideia de trânsito identitário e o professor apresentou a conceção de travessia e penso que trânsito e travessia dialogam muito bem. Achei muito boa a forma como ele conduziu todo o curso de modo a apresentar essa travessia, isto é, do moderno ao pós-moderno, de um modelo informativo para um comunicacional baseado na fortíssima ideia de tecnologia e da imagem”, reforça Cristian Góes. Adicionalmente, Góes destacou as formulações sobre melancolia que, afirma, foram importantes para que desse um salto nos seus estudos sobre memória prospetiva no jornalismo.