Seminário adiado

Nas atuais circunstâncias de suspensão de atividades na Universidade do Minho e fechamento do prédio do ICS, devido ao novo coronavírus COVID-19, informamos o adiamento do Seminário Interdisciplinar Interculturalidades e consciência histórica: desafios atuais para a cidadania.
A nova data será definida mais tarde.

Disponíveis os resumos do Seminário Interdisciplinar Interculturalidades e consciência histórica: desafios atuais para a cidadania

O Seminário Interdisciplinar Interculturalidades e consciência histórica: desafios atuais para a cidadania conta com a participação de Alberto Sá, Francisco Mendes, Isabel Macedo, Jacob Cupata, Marília Gago, Moisés de Lemos Martins, Rosa Cabecinhas e Sheila Khan e Alice Balbé como moderadoras. O Seminário será realizado no dia 20 de março de 2020, na Sala de Atos do ICS, na Universidade do Minho, das 14 horas às 17 horas.

Confira o tema das intervenções:

Memória cultural e consciência histórica: um domínio transdisciplinar? – Rosa Cabecinhas, CECS/UMinho

Nas últimas décadas houve uma proliferação de debates científicos e políticos em torno da “memória pública”, nomeadamente no que diz respeito às “políticas da memória”, às “políticas de identidade” e aos “direitos de memória”. No âmbito das ciências humanas e sociais, desenvolveu-se um léxico diverso, que oferece várias formas alternativas de compreender a memória e a sua interação com a cultura, os media e a sociedade. No entanto, as fronteiras disciplinares têm dificultado os esforços para desenvolver um léxico compreensivo que possa sustentar o tão necessário diálogo interdisciplinar sobre esta complexa temática. Nesta comunicação, a partir de uma revisitação da pesquisa anterior em representações sociais da história, iremos discutir alguns dos desafios com que nos confrontamos nesta área de estudo.

Representações historiográficas, consciência histórica transnacional e redes simbólicas. Problemas atuais de definição e marcadores críticos – Francisco Azevedo Mendes

A coexistência de vários contextos disciplinares a operar com a noção de consciência histórica produz níveis de turbulência conceptual e metodológica, cuja plasticidade importa sondar no que diz respeito à afinação dos instrumentos de análise. Pretende-se discutir de que forma os estudos comparativos sobre as representações subjacentes às historiografias nacionais interagem com os programas científicos, políticos e culturais, que trabalham as formas e os conteúdos da consciência histórica. Nesse sentido, avança-se com a hipótese de que as historiografias são sintomas de redes simbólicas de apropriação intercultural e transnacional do passado com regimes de temporalidade, lógicas de continuidade e de quebra e níveis de disseminação diferenciados e persistentes. Esta hipótese é aqui explorada através da identificação de marcadores críticos na teorização e na própria história da historiografia, suscetíveis de contribuir para uma discussão mais ampla sobre a sua utilidade científica e social.

Consciência histórica, narrativa e identidade – reflexos e diálogos – Marília Gago

Resumo: A narrativa histórica perspetivada como face material da consciência histórica forma e enforma a identidade. Pela narrativa é dado sentido e significado à vida em vários tempos e espaços. Na expressão e compreensão da realidade seja do passado, do presente ou dos horizontes de expectativa que se desenham, inscreve-se a orientação temporal do “eu” e do “nós” que ilumina dinamicamente as decisões da vida prática e os caminhos a trilhar. O modo como cada um, individual ou coletivo, constrói o seu modo de ver o mundo e de o compreender-explicar é revelador dos sentidos de identidade que se partilham, e que podem ser mais ou menos etnocentrados ou interperspetivados. A identidade expressa e construída narrativamente pode oscilar entre o foco no que nos distingue numa lógica de exclusivismo ou no que nos une numa lógica mais ampla de concepção do ser humano e da Humanidade.

O enquadramento da História da África no sistema educativo angolano. Práticas e experiências – Jacob Lussento Cupata

Ao longo da sua afirmação como República de Angola, o país enfrentou várias vicissitudes, fruto do contexto histórico, marcado por um período de dominação colonial, pela guerra civil no período pós-independência, num contexto geopolítico internacional marcado pela guerra fria, e pelo processo de afirmação da democracia. Para responder aos desígnios de cada realidade histórica, foram traçadas políticas educativas que respondessem ao sistema político-económico, o que levou à implementação de reformas educativas e consequentemente à integração da disciplina de História nos diferentes planos curriculares, atendendo ao lugar que ocupa na formação da consciência histórica e social. Pretende-se analisar o enquadramento que a História da África foi tendo, na disciplina de História no Ensino Geral em Angola ao longo deste processo. Para o efeito, examinamos os diferentes programas de História do nível de ensino em referência.

Memória cultura, identidades e educação: reflexões a partir de um estudo de receção com estudantes do ensino secundário – Isabel Macedo

Analisar os processos migratórios e o seu impacto no quotidiano das pessoas tornou-se essencial para compreendermos a sociedade contemporânea. O sistema educativo, os média, o discurso político, entre outros agentes e instituições na sociedade, têm um papel central na difusão e reificação de determinadas imagens sobre as populações migrantes, influenciando valores, normas, ações e relações interculturais. Enquanto agentes de mudança social, o cinema e a escola podem assumir um papel ativo no processo de desconstrução crítica de visões sobre o ‘Outro’. De facto, as representações difundidas no período colonial parecem marcar as representações e as relações interculturais (pós)coloniais. As representações que associam a pessoa negra a papéis sociais subalternos, à pobreza, ao lugar dominado e ao exercício de funções não qualificadas, bem como à falta de escolaridade, estão presentes no discurso dos jovens participantes nesta investigação, evidenciando a importância das representações da história na (re)construção das identidades, normas e valores dos grupos sociais.

As “fake news” na sala de aula: atualidade do método histórico – Alberto Sá

O sentimento generalizado de desconfiança dos cidadãos perante as estruturas convencionais de poder e de informação trouxeram tempos confusos e contraditórios que afetam os valores universais da liberdade, da comunicação e da democracia. A suspeita e incerteza perante a veracidade da informação e a própria invasão de privacidade por ação da exposição excessiva aos dispositivos eletrónicos fragilizaram ainda mais a condição humana, o que torna os cidadãos presas fáceis para diferentes tipos de poder, conforme demonstrado com o recente escândalo “Facebook–Cambridge Analytica” (2018) ou mesmo as campanhas presidenciais na Rússia, EUA e Brasil. Num momento em que as notícias invadem os telemóveis provenientes de múltiplas fontes sem a devida referenciação, importa perguntar que papel cabe aos média e aos grupos de comunicação nesses processos? Muitos converteram os processos de verificação de factos (fact-checking) como um produto noticiável (Observador, Polígrafo SIC…). E que papel cabe à Escola? Estes casos especiais de jornalismo investigativo seguem no horizonte o método histórico, concretamente na crítica das fontes. O que propomos é refletir sobre o problema emergente da necessidade de comprovação dos factos e dos dados nos veículos de comunicação chamando-os à discussão no âmbito do ensino e aprendizagem da História, propondo exercitar o método histórico não tanto para investigar os eventos passados, mas antes para promover a atitude crítica perante a avalanche informativa e a presença responsável no ecossistema mediático. Parece-nos que a heurística, as críticas interna e externa, e a hermenêutica, quando trabalhadas no âmbito das tarefas escolares e atualizada perante os desafios sociais de hoje, podem contribuir para uma melhor relação com este fenómeno atual, promovendo a qualidade da informação pública e examinando as atividades dos gigantes da Internet.